No período em que Belém ainda desfrutava da riqueza proporcionada pela economia da borracha, época conhecida como Belle Époque, uma iniciativa do então Governo da Província do Pará deu início à implantação da Estrada de Ferro de Bragança, obra que está diretamente ligada à formação da avenida que hoje recebe o nome de Pedro Álvares Cabral. Na área em que hoje se vê o Complexo Viário do Entroncamento havia uma bifurcação da estrada de ferro que se estendia pela via que, naquela época, era conhecida como Rua do Trilho.Com mais de 8 km de extensão, a movimentada avenida que liga o Complexo Viário do Entroncamento à Avenida Visconde de Souza Franco em quase nada lembra as características arquitetônicas vivenciadas pela cidade de Belém no final do século XIX, mas sua história remete a esta fase importante da história da capital paraense. O historiador Jeffrey Rebelo relata que a história da avenida Pedro Álvares Cabral inicia justamente quando ocorre a desativação da antiga Estrada de Ferro. “A Avenida Pedro Álvares Cabral surge no contexto da desativação da Estrada de Ferro Belém-Bragança, em 1965, durante o governo do Marechal Castello Branco, bem no início da ditadura. A atual avenida constituía um ramal da antiga estrada de ferro; esse ramal era chamado de Rua do Trilho, e se estendia do Entroncamento até o cais do porto”.Naquele período, o professor conta que já era possível encontrar algumas construções ao longo da avenida, apesar do processo de ocupação ter se intensificado com o passar do tempo e por motivos outros que não necessariamente ligados à antiga estrada de ferro. “Quando olhamos para as fotografias que retratam a Avenida, podemos ver uma ocupação razoável do seu leito já na década de 1960, mas as condições urbanas eram muito precárias naquela época, com os alagamentos destacando-se bastante nas imagens”, aponta o historiador. “Em relação à ocupação, alguns estudos apontam vários fatores, e que, embora a construção da Estrada de Ferro não deva ser desconsiderada, há também questões como o processo de urbanização do Reduto, que vai empurrando as famílias mais pobres para regiões mais periféricas de Belém”.Conteúdos relacionados:A expansão de Belém passou por aqui: avenida TamandaréApós 189 anos, Cabanagem ainda deixa marcas em BelémBoulevard Castilhos França: cartão postal e muito mais!
Moradora da avenida há 7 anos, a autônoma Kátia Santos, 38 anos, já conheceu a Pedro Álvares Cabral asfaltada, mas através dos relatos dos moradores mais antigos ela conhece histórias da época em que a via ainda era marcada pelos alagamentos. “Quando eu vim morar aqui, a rua já era assim como a gente vê hoje, mas o pessoal conta que antigamente era bem diferente. Era só mato, alagava bastante aqui nessa área toda, então mudou muito mesmo”, conta, ao relatar as vantagens de morar e trabalhar na avenida. “Pra mim, que trabalho com o comércio, é ótimo pra mim porque é uma rua que tem bastante movimento. Isso facilita pra gente transitar e também as vendas porque tem mais gente passando”.NOVO NOMENa medida em que recebeu a configuração de avenida, a via que antes recebia o trilho do trem passou a se chamar Pedro Álvares Cabral. O historiador Jeffrey Rebelo considera que a via tenha passado a receber esta denominação já no século XX. “É provável que essa denominação tenha sido estabelecida em meados da década de 1960, quando ocorre a desativação da Estrada de Ferro Belém-Bragança, e o modal rodoviário suplanta definitivamente as ferrovias”, pontua. “Lembrando que Pedro Álvares Cabral é o fidalgo português a quem a historiografia tradicional, produzida sob a ótica do colonizador, aponta como o ‘descobridor do Brasil’. Essa homenagem, feita durante o regime ditatorial, mostra o quanto a mentalidade colonialista predominava entre nós”.Quer ler mais notícias do Pará? Acesse nosso canal no Whatsapp No livro ‘Ruas de Belém’, o historiador Ernesto Cruz registra que Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte, em Portugal, e tinha aproximadamente 30 anos quando, em 1500, chegou às terras do que posteriormente veio a se tornar o Brasil. O almirante faleceu em Santarém, também em Portugal.
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias