No último sábado (27), o caso de uma psicóloga, que se passou por desembargadora e agrediu física e verbalmente funcionários de uma unidade do restaurante paraense Casa de Saulo, no Rio de Janeiro, gerou indignação nas redes sociais. Os vídeos mostram a psicóloga deixando o restaurante aos gritos e fazendo ofensas: “Eu sou desembargadora, sua ****, e vou trazer a polícia aqui para fechar essa ****”, foi um dos xingamentos. A atitude de invocar a própria posição socioeconômica como uma forma de intimidar e coagir outras pessoas – a popular “carteirada” – é um traço de comportamento fálico-narcisista, como explica a psicanalista paraense Rafaela Guedes.
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Segundo ela, pessoas com essas características têm a necessidade de se afirmarem como superiores, geralmente motivados pelas diferenças sociais e econômicas. “Essas pessoas funcionam de uma forma específica. No momento em que se colocam em um lugar de potência ou de onipotência, muitas vezes elas estão tentando reparar algo da história delas, de algum momento que elas se sentiram diminuídas ou humilhadas. Por outro lado, também tem a história de que a pessoa sempre foi colocada em um pedestal e vive a ilusão de que é melhor do que os outros. Dentro de um contexto capitalista, geralmente, esse sentimento de superioridade vem da posição socioeconômica”, explica.
De acordo com a psicóloga clínica e mestranda em psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Caroline Cavalcante, um especialista não pode determinar se uma pessoa possui um transtorno ou não por meio apenas de um vídeo ou de algumas falas. Mas a forma como ela se expressa tem influência direta com o contexto histórico, social, político e econômico que vivencia. “As relações de poder estabelecidas no mundo capitalista podem ser correlacionadas com a capacidade de conseguir articular forças para obter um resultado. Para isso, mobilizam forças econômicas, sociais e políticas, permeadas pela linguagem. É o caso de pessoas que acreditam estar em posição de autoridade ou superioridade em relação a outras, seja por sua condição de vida, trabalho, cor, classe e orientação sexual e, para afirmar essa posição, acha-se no direito de humilhar e violentar outros corpos”, analisa.
Fonte: Pará – O Liberal.com