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“Povo do Marajó deve ser ouvido na COP30”, defende dom Azcona

O ano de 2024 começa de forma emblemática para o bispo emérito da Prelazia do Marajó, dom José Luis Azcona Hermoso, 83 anos. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, ele reafirma o compromisso de lutar pelos direitos do povo do Arquipélago do Marajó, inserido no contexto dos cidadãos da Amazônia, neste período que antecede a realização da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, em novembro de 2025. Em dezembro de 2023, a Nunciatura Apostólica reviu sua decisão de que o bispo deveria deixar a residência onde mora em Soure, fato este comemorado pelos moradores da região, onde são sucessivos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes e são identificadas condições alarmantes de vida de grande parte da população de 593.822 habitantes (Censo 2022, IBGE).  

“Olho para a COP30, da ONU com infinita apreensão. Os gravíssimos problemas da Amazônia e os mais graves ainda do Marajó continuarão multiplicando-se se antes não houver uma participação consciente e comprometida de toda a Amazônia antes e durante a COP por tratar-se dos enormes riscos e desafios que carrega consigo, riscos e desafios que carrega consigo o Marajó, a Amazônia e a humanidade inteira num momento talvez único na história”, enfatiza dom Azcona.

Preocupação

Entre ações que geram preocupação ao bispo emérito do Marajó, figura, como ele próprio diz, o projeto de rizicultura com mais de dez anos em Cachoeira do Arari, apresentando-se como “um acúmulo de atentados contra o meio ambiente, contra a humanidade, os animais, as plantas e contra a mesma Constituição brasileira”, no aspecto nevrálgico. Isso porque, como destaca dom Azcona, na região são despejados agrotóxicos, que podem estar envenenando peixes consumidos em Belém  e no próprio Marajó. 

Dom Azcona questiona o mercado de créditos de carbono na região marajoara, defendendo que o povo seja favorecido como essa prática já em desenvolvimento no local desde 2015. “Como não estremecer sobre o futuro imediato e o mais prolongado do projeto “Prospecções petrolíferas” na foz do Amazonas: Amapá, Pará, Maranhão? Este, o assim chamado “segundo pré-sal” brasileiro, com estudos técnicos atrasados já faz dez anos e com toda a possibilidade de um vazamento mortífero? Quem não pensa nos trezentos quilômetros da desembocadura do Amazonas entre as pontas do Pará e Amapá, aberta à possiblidade desta emergência apocalíptica cujo primeiro e último capítulo seria a devastação e desertificação de todo Marajó, e desde aqui de toda a nossa querida Amazônia? Por tanto, da humanidade inteira?”, enfatiza o bispo.

O bispo defende ações estruturais na região, com foco no combate à fome, miséria, e para a geração de emprego e renda, diante de um quadro socioeconômico grave.  

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Amor cristão

Ao comentar sobre a oportunidade de permanecer em sua residência no Marajó, dom Azcona destaca: “Me sinto feliz com a alegria renovada de poder pregar o Evangelho no Marajó aos marajoaras aos quais amo. Pregar o Evangelho que se sustenta por si mesmo. O evangelho que não precisa do marxismo nem do liberalismo, nem do capitalismo, nem do mundanismo. É a alegria de poder pregar Cristo Crucificado a um povo como o de Marajó também pregado na Cruz!”.

O bispo agradece a todas as pessoas que se manifestaram recentemente pela permanência dele na região “com gratidão entranhável, quer dizer, com a gratidão da missa, com a gratidão da Eucaristia”. “Aquela que nasce e termina em Deus e acontece no amor crucificado e ressuscitado de Jesus Cristo”, enfatiza.

“Trinta e nove anos no Marajó, na missão religiosa e dos direitos humanos, neste momento compreendo com toda a clareza que Jesus o Filho de Deus vivo, me enviou como apostolo e servo Dele a “evangelizar os pobres, libertar os cativos, abrir os olhos aos cegos” (Lc 4, 17ss), assumindo a plena radicalidade do amor cristão.
Amor concretizado no seguimento de Cristo com a Cruz no padecer por Ele por causa da justiça e no perdão e o amor aos meus inimigos e aos inimigos do povo!”, pontua dom Azcona. Para ele, “estar com o povo de Deus no Marajó, viver no Marajó significa viver no máximo a radicalidade desse amor cristão que supera o amor humano porque participa do amor divino que não termina nunca!”.

Como acrescenta o bispo, somente no senso de resgate, de libertação, o Evangelho tem sentido no Marajó, na Amazônia, no mundo. “Neste momento, me comprometo a defender e promover para Marajó e para a Amazônia a qual amo apaixonadamente “o único eixo cultural capaz de construir no Marajó, na Amazônia e no mundo, a cultura da vida” (Aparecida 543). O resto é morte! Assim são as coisas! Não tem mais!”, completa. 

 

 

 

 

Fonte: Pará – O Liberal.com 

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