O jornalismo brasileiro passou por diversas fases. Desde os anos 60 e 70 com o famoso “Repórter Esso”, passando por diversas etapas, o jornalismo no Brasil teve uma reviravolta nos anos 90. Programas como o “Aqui, Agora” do SBT, e o do “Ratinho” na Record, criaram uma nova forma de divulgar a notícia.Mas o programa que marcou mesmo essa época foi o “Linha Direta”. Domingos Meirelles, 83, assumiu o comando do Linha Direta (Globo) em agosto de 2000, em substituição ao colega Marcelo Rezende (1951 – 2017). O jornalista tinha a missão de dar um “refresco” no tom de apresentação do programa, que vinha sofrendo críticas pelo excesso de violência e a dramatização de histórias reais.Com o tempo, o profissional imprimiu a própria identidade à atração e, mesmo após 15 anos da última edição apresentada por ele ir ao ar, o nome de Meirelles continua sendo associado ao programa.+ #TBT: a mãe paraense que desafiou a polícia no Linha DiretaEm entrevista exclusiva a Splash, o jornalista falou da trajetória do Linha Direta, os erros e os acertos do programa, o preconceito nos bastidores da Globo e o que pensa da nova versão apresentada por Pedro Bial.
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“O Linha Direta me tornou um pouco mais popular. Todo mundo assistia, independentemente de gostar ou não de jornalismo. Um programa como o Linha, com o desenho que tinha, o formato, acabava atingindo um público muito maior. As pessoas me cumprimentavam no ônibus, no avião”, declarou o jornalista.O programa, que é considerado um precursor do “true crime” — gênero que aborda crimes reais — na televisão brasileira, era um sucesso de audiência e repercussão entre o público. Mesmo assim, porém, precisou lidar com as consequências dos erros cometidos na construção de algumas edições.Meirelles aponta o “excesso de violência” como um dos erros da atração. “Era um banho de sangue às vezes. Eu defendia que era preciso tirar a violência do gesto. Eu discutia muito isso com a direção do programa.”+ Linha Direta apresenta caso que abalou imagem de Sônia AbrãoOs primeiros anos foram de pancadaria da crítica especializada. “Era muita porrada. Quando eu entrei, por sorte, acho que houve ali um refresco, vamos dizer assim. Também porque eu tinha uma outra maneira de apresentar o programa. Mas eu acompanhei toda a trajetória do calvário de críticas do início.”A Globo estava insegura com as críticas e decidiu tirar o programa do ar, mesmo com oito edições prontas. “Ele [Carlos Henrique Schroder, ex-diretor da emissora] tira o programa do ar em 2007 com oito episódios prontos, já gravados. Esses que nunca foram exibidos. Eu dizia para ele: ‘Vamos pelo menos exibir esses programas', mas ele respondia que foi ‘decisão do comitê'. Na época, tudo era comitê. Era uma forma de você pulverizar responsabilidade.”O programa esteve para voltar algumas vezes. “O público não tomou conhecimento disso. Ele saiu do ar em 2007, num ano em que ele foi premiado com o segundo lugar no Emmy. E depois disso, a Globo promoveu várias reuniões tentando trazer de volta o Linha Direta. Eu fiquei cinco anos na Globo sem fazer nada. Só esperando uma definição deles.”Preconceito nos bastidoresO Linha Direta também enfrentou desaprovação e preconceito nos bastidores da Globo. De acordo com o apresentador, alguns atores e jornalistas da casa não tinham um bom relacionamento com os profissionais do programa. À época, diferentemente do departamento de jornalismo, o programa ficava situado no antigo Projac (hoje, Estúdios Globo).+ Galã de Mulheres Apaixonadas entrega flores para viverA estrutura do programa foi desconectada do jornalismo e ocupava a mesma área do entretenimento. “Tinha alguns atores que cruzavam com as equipes e fingiam que não viam. Nem cumprimentavam. Enquanto você tinha, do outro lado, atores que gostavam do programa, como Susana Vieira e Tony Ramos. O programa também sofreu preconceito dentro do próprio jornalismo da emissora. Os repórteres da casa não tinham um bom relacionamento com os repórteres do programa.”Novo Linha DiretaDomingos Meirelles conta que acompanhou duas edições da nova versão do programa, que agora é apresentada por Pedro Bial: a que abordou o caso Eloá e uma sobre a morte do menino Henry Borel.”Não é fácil você tentar reproduzir o sucesso de um programa que deixou de ser exibido em 2007. O mundo mudou nesse espaço de tempo. Você tem as redes sociais, você tem hoje toda uma estrutura de informação que não tinha na época”, explica.
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O jornalista avalia que o papel da imprensa no caso Eloá foi abordado de forma superficial. “Eu acho que eles deviam ter aprofundado a discussão sobre o papel da imprensa, da televisão na cobertura do caso. Eles arranharam, não mergulharam. Ficaram um pouco na superfície, acharam melhor não. Talvez por razões políticas, mas realmente a imprensa teve um papel, como teve também no caso da Escola Base.”+ Vídeo: lutador de 16 anos morre após levar chute na cabeçaMeirelles acredita que Bial conduz uma versão diferente da atração. “Hoje é um programa mais simples, eu diria até. É um programa que o Bial, de certa forma, que é uma pessoa extremamente competente, está conduzindo bem dentro do que foi concebido pela própria emissora. Porque o Bial é um profissional muito qualificado. Ele está agora dentro de um outro formato. O que realmente vendia o programa eram as prisões. A prisão era o ponto alto do programa”O Linha Direta estreou em 1990 e era marcado pela reconstituição, com atores e entrevistas de testemunhas, de crimes e tragédias de grande repercussão no Brasil. O programa contou com os jornalistas Hélio Costa, Marcelo Rezende e Domingos Meirelles na apresentação ao longo dos anos.Os telespectadores faziam denúncias por meio de uma central telefônica, disponível 24 horas por dia, e pela página do programa na internet. Cerca de 380 criminosos foram localizados pelas autoridades policiais, apenas com os casos relatados na atração.
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias