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Equoterapia: uma aliada na recuperação física e mental

A cada movimento natural do cavalo, uma série de novos estímulos é transmitida à pessoa que segue montada, proporcionando ajustes posturais que podem melhorar aspectos motores. Muito conhecida como método terapêutico voltado para pacientes com demandas neuromotoras, a equoterapia também é uma importante aliada no desenvolvimento comportamental de crianças e adultos que se beneficiam da abordagem multidisciplinar.
Tendo como base os movimentos rítmicos e repetitivos executados pelos cavalos durante a marcha, a equoterapia aproveita o movimento natural do animal e a sua semelhança com o movimento da andadura do próprio ser humano. Quando caminha, o centro de gravidade do cavalo se desloca, resultando em um movimento similar ao da marcha humana. Nesse sentido, a cada passo, o cavalo vai jogando para um lado e para outro, e o paciente montado vai tentando se reestruturar, ganhando postura e força para manter o equilíbrio.
Autismo: como trabalhar o processo de alfabetização?Terapeuta ocupacional, a coordenadora do Reabilitar Equoterapia, Tatiana do Carmo, aponta que em meia hora de sessão de equoterapia, mais de 26 mil ajustes são ativados através da movimentação natural da marcha do cavalo. “Comprovada cientificamente, a equoterapia possui desfechos relacionados ao equilíbrio, à simetria, à retificação postural, à coordenação motora, à mobilidade pélvica. São muitos desfechos no quesito neuromotor porque o cavalo traz essa referência de estímulo tátil, proprioceptivo e vestibular”, explica.
“Então, quando o praticante está sentado no cavalo com o centro de gravidade alinhado com o centro de gravidade do animal, e o cavalo está em deslocamento, esses estímulos táteis, proprioceptivo e vestibulares são transferidos simultaneamente para a pessoa que está a cavalo, então, ela está constantemente recebendo essas informações e o corpo vai respondendo a essas informações de uma maneira adaptativa. São ajustes continuados. São mais de 26 mil ajustes em meia hora de sessão”.
Tatiana explica que, antes que uma pessoa possa iniciar um tratamento por meio da equoterapia, é preciso que haja indicação médica. A partir daí, quando o paciente chega ao atendimento da equoterapia, passa por um processo avaliativo da equipe multidisciplinar, quando são traçados os objetivos para que se faça o planejamento terapêutico que será seguido durante os atendimentos. “Antes de iniciar a terapia eles seguem uma rotina estruturada. Então, tem o material, tem os equipamentos de segurança, tem a aproximação inicial com o animal. É todo um processo de adaptação, primeiro com o espaço, com o ambiente, depois com o animal”. 

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 Para além das contribuições físicas e motoras, Tatiana lembra que a equoterapia também trabalha a questão comportamental, levando a benefícios que envolvem o bem-estar geral do indivíduo, mantendo uma interação entre corpo e mente. “Aqui nós temos 18 praticantes, muitos são praticantes neuromotores e temos também muitos pacientes autistas”, conta ao falar do serviço do Reabilitar Equoterapia, que funciona no Parque de Exposição do Entroncamento, espaço que é da Associação Rural da Pecuária do Pará, com acesso pela avenida João Paulo II, em Belém. “Quando a gente fala em desenvolvimento, em atendimento de saúde, a gente não fala só de um desfecho porque o indivíduo é um todo, então, a gente tem que entender, obviamente, da estrutura do corpo, mas a gente também leva em consideração a participação de todo o contexto ambiental, atividade e participação social. Então, os benefícios vêm juntos”.
Durante o processo de desenvolvimento das sessões, a própria interação entre o ser humano e o cavalo proporciona questões como o desenvolvimento do afeto, regulação emocional, atenção, concentração, motivação, benefícios que vão levar a tantos outros. “Para pessoas que ainda não falam, por exemplo, essa interação com o animal leva a novas formas de comunicação, novas possibilidades de interagir e se comunicar porque a gente, não necessariamente, se comunica só com a linguagem oral. A gente tem o gestual, a gente tem o olhar, o toque. Então, eles se expressam de várias maneiras aqui”, considera a terapeuta ocupacional. “Isso se cria a partir do momento em que o mediador facilita que se alcance isso. Imagina que, para algumas pessoas que têm alguma dificuldade de interação social, elas não vão chegar e já abraçar o cavalo, é um processo e cada um tem o seu tempo. Por isso tem o mediador, para ele entender o contexto e favorecer que as coisas aconteçam de uma maneira agradável, produtiva e segura”.
Os momentos agradáveis que o pequeno Erlan Monteiro Carvalho, 6 anos, vivencia durante o atendimento da equoterapia ficam estampados em sua expressão assim que ele começa a preparação, com o uso dos equipamentos de segurança, para subir no cavalo. Desde que ele iniciou o método terapêutico, há um ano, já se observam melhorias em relação ao equilíbrio e à concentração, além do grande prazer que ele tem de ir para as sessões. “Ele é uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e depois que ele começou a fazer a equoterapia melhorou bastante a questão do equilíbrio, além da coordenação motora, do raciocínio lógico, da questão tátil, da aproximação com os animais, ele desenvolveu habilidades”, considera a mãe de Erlan, Eliane Monteiro Carvalho.
“A questão da sensibilidade auditiva eu já percebi que melhorou bastante. Ele tinha crises de hipersensibilidade auditiva com barulho de makita (ferramenta utilizada para serrar mármore) e nós tivemos um episódio que durante uma sessão teve esse barulho em uma obra próxima enquanto ele estava em cima do cavalo e eu percebi que em nenhum momento ele teve crise de choro, se espantou. Ele preferiu isolar aquele momento e estar ali fazendo a atividade dele em cima do cavalo. É prazeroso para ele estar próximo ao cavalo, desenvolver outras atividades, então, é uma soma grandiosa dentro da equipe multidisciplinar que é a equoterapia”. 

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 Além dos profissionais que lidam mais diretamente com o paciente e com a interação entre paciente e animal, para que a equoterapia seja viabilizada também são necessários alguns cuidados especiais com o animal que faz parte do processo. O instrutor de equitação, Cláudio Polaro, que é responsável pelo treinamento dos cavalos e também coordenador do Reabilitar Equoterapia, aponta que não existe uma raça específica de cavalo adequada para equoterapia, mas que o animal precisa passar por um treinamento específico para tal.
“Para a equoterapia eles precisam ter um treinamento específico, aceitar os materiais porque temos materiais de arreio específicos para a equoterapia e esse animal precisa estar feliz para que ele possa desenvolver o trabalho em que os praticantes tenham uma recuperação, um desenvolvimento, uma reabilitação bem mais rápida”, considera. “Na Equoterapia não existe uma raça específica para o atendimento, mas o cavalo precisa ter algumas características. Ele não pode ser um animal muito alto porque o técnico que vai acompanhando ao lado precisa fazer algumas manipulações e o animal muito alto poderia dificultar isso. O movimento dele tem que ter uma simetria, tem que ter os aprumos perfeitos porque através do movimento que ele recebe do solo é que ele vai dar a posição do praticante montado”.
Além disso, é fundamental que o cavalo seja dócil e aceite com tranquilidade a aproximação de bolas, bambolês, de sons, itens que podem ser utilizados durante as sessões, a depender do perfil terapêutico traçado para cada praticante. “Ele tem que ser trabalhado numa doma gentil, com todo o respeito, observando a questão etológica, como era o comportamento dele na natureza para que a gente possa respeitar o que podemos passar para ele na comunicação. Na verdade, tudo se resume na conexão entre o praticante, a família, a equipe e o cavalo”.
Os benefícios dessa interação entre o praticante de equoterapia e o animal já são trabalhados há 25 anos pela Polícia Militar do Pará, que em 2002 criou o Centro Interdisciplinar de Equoterapia de Belém (CIEQ Belém), inicialmente vinculado ao Centro Médico Veterinário, mas que em 2014 passou a fazer parte do Centro de Reabilitação da PMPA. Ao longo dessas mais de duas décadas, o serviço que iniciou de forma muito incipiente, a partir da atuação de voluntários que se dispunham a fazer esse atendimento, foi sendo estruturado e hoje a Polícia Militar conta com uma equipe, no CIEQ Belém, que conta com fisioterapeuta, psicólogo, pedagogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.
“As vagas são destinadas ao público interno – policiais militares e seus dependentes, assim como os bombeiros militares – e um percentual dessas vagas é destinada à sociedade civil, então, as pessoas podem ser atendidas lá, sem custo nenhum”, explica o fisioterapeuta, diretor do Centro de Reabilitação da PMPA e coordenador do CIEQ- Belém, Major Angelo Scotta. “O mecanismo é procurar um centro para fazer uma inscrição presencial, onde a pessoa vai receber um protocolo e aguardar ser chamada. Claro que a gente tem uma procura muito maior que a nossa capacidade de atendimento e, consequentemente, a gente precisa de um tempo para conseguir chamar todos”.
A grande procura pelo serviço é justificada pelos benefícios proporcionados pelo método terapêutico, benefícios esses que a equipe do CIEQ Belém já acompanhou por diversas vezes ao longo desses anos de atuação. “A Equoterapia utiliza o contexto equestre para o atendimento de pessoas com deficiências motoras, comportamentais e emocionais. Então, no aspecto motor, o passo do cavalo se assemelha em 95% à marcha humana, então, quem está montado passa por um estímulo através de um movimento tridimensional do cavalo e isso proporciona ajustes posturais que vão melhorar esses aspectos motores no caso de pacientes com paralisia cerebral, com comprometimentos neurológicos que atingem essa questão motora”, explica o Major. “No outro aspecto, comportamental, nessa interação com o cavalo o profissional vai fazendo uma abordagem dentro da especificidade da área dele, no caso o pedagogo ou o psicólogo, para melhorar essas questões”.
REABILITAR
A Reabilitar Equoterapia funciona no Parque de Exposição do Entroncamento, em espaço cedido pela Associação Rural da Pecuária do Pará. O Parque de Exposição tem acesso pela avenida João Paulo II, em Belém. Maiores informações podem ser obtidas através da página no Instagram @fisioterapia_reabilitar.
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE EQUOTERAPIA DE BELÉM
O programa de equoterapia do Centro Interdisciplinar de Equoterapia de Belém é um serviço oferecido pela Polícia Militar do Pará em parceria com o Governo do Estado do Pará desde 1993, com caráter terapêutico, educacional e social. O centro funciona na Rod do Trabalhador KM 01, Passagem Santa Helena, nº 85, no bairro do Mangueirão, em Belém.INSCRIÇÕES
As inscrições são realizadas presencialmente no Centro de Reabilitação da PMPA – Serviço de Equoterapia, de 2ª a 6ª feira, entre 8h e 12h. 

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Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias 

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