Como o Estado do Pará se insere no contexto político, social e econômico do Brasil? Esse questionamento acompanha a trajetória do Estado desde a Adesão do Pará à Independência do Brasil, em 15 de agosto de 1823, ou seja, marco histórico que completa 200 anos nesta terça-feira (15). Esse é um aspecto central desse fato da vida paraense e brasileira, como destaca o professor e historiador Aldrin Figueiredo, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Aldrin e a historiadora Michelle Queiroz estão envolvidos na exposição “Águas Turvas – Paisagens Insurgentes da Adesão de 1823 / O bicentenário do 15 de Agosto” que a UFPA, via a Cátedra João Lúcio de Azevedo e Instituto Camões, e o Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHFP),abrem, nesta terça, às 18h (em solenidade interna), no Solar Barão de Guajará, sede do Instituto, na rua D´Aveiro, 62, no entorno da Praça Dom Pedro II, no bairro da Cidade Velha.
O professor Aldrin Figueiredo destaca que o evento do 15 de Agosto, quando foi assinada a Adesão ao Império do Brasil por uma junta governamental presidida pelo padre dom Romualdo de Seixas, resulta do interesse da Coroa de anexar essa área do Brasil, pós-Independência, haja vista que ainda estava muito longe no território brasileiro, de vez que “o próprio Grito do Ipiranga não ecoou muito aqui, no Norte do Brasil”.
A elita paraense, na época, era muito ligada à Lisboa, e aí vinha o impasse: se se fica ao lado de Portugal ou se fica do lado do Brasil? E havia partidários das duas partes. O imperador Dom Pedro I, então, envia marinheiros ao Pará, no caso, o lord Thomas Cochrane e o capitão John Pascoe Greenfell, que era um preposto dele. “E houve um blefe. Disseram que tinha uma esquadra que ia invadir a Cidade de Belém, iam tomar à força; mão não foi só isso que levou à Adesão. Lá em Portugal, os parlamentares que representavam o Pará naquela Revolução do Porto, em 1820, não estavam mais sendo muito ouvidos.Havia uma radicalização também do lado português da história. Então, optou-se a aderir ao Império do Brasil. Havia partidários de dom Pedro I aqui, como ressalta o historiador.
O mais importante nesse processo, como assinala Aldrin Figueiredo, é a constituição da nacionalidade. A integração do Grão-Pará ao Império do Brasil representa a constituição de um novo país, uma nova nacionalidade, que seria o Brasil. Mas, existem também duas outras datas importantes. Uma refere-se a 14 de abril de 1823, relacionada a um movimento envolvendo vários militares a partir da causa brasileira, da separação com Portugal, quer dizer, “a Adesão já estava proposta antes, lá em 14 de abril”. Participaram desse movimento nomes muito conhecidos em Belém, que intitulam, inclusive, ruas no bairro do Umarizal, como Diogo Móia, Jerônimo Pimentel, Boaventura da Silva, Antônio Barreto. Domingos Marreiros.
Depois da Adesão assinada em 15 de agosto, não houve a pacificação; mas, sim, motins, conflitos, e isso culminou em 21 de outubro na tragéia do Brigue Palhaço, quando 256 paraenses foram postos no porão de um navio (brigue São José Diligente, depois,denominado “brigue Palhaço”), e a maioria acabou morrendo.
“Esse ano de 1823 é um ano-chave para entender a Independência do Brasil no Pará, porque foi praticamente um ano depois do Grito do Ipiranga que o Pará de fato aderiu, a gente pode colocar bastante aspas nessa Adesão, ao Império do Brasil; na verdade, queriam a Independência, mas a grande questão é: qual o lugar do Pará nessa Independência? Como o Pará seria ouvido lá na Corte? É um questionamento atualíssimo!”, enfatiza Aldrin Figueiredo. A Independência não anexou prontamente o território paraense à nacionalidade brasileira, e os descontentamentos prosseguiram, inclusive, na Cabanagem.
Olhar amazônico
Na mostra exposição “Águas Turvas – Paisagens Insurgentes da Adesão de 1823 / O bicentenário do 15 de Agosto”, o público confere documentos, imagens e outros itens relacionados à temática, incluindo manifestações ocorridas na época. A curadora da exposição, historiadora Michelle Barros de Queiroz, ressalta que “o Pará foi a última província a aderir à Independência, que havia sido proclamada em 7 de setembro de 1822, e várias províncias não aderiram de imediato, e o Pará foi a última, isso porque durante todo o processo da Independência havia forças políticas e interesses divergentes no Pará; muitos membros da junta de governo do Pará e alguns comerciantes eram contrários a essa relação de subordinação política com a Corte do Rio de Janeiro, continuaram ligados às Cortes de Lisboa”. A assinatura do documento da Adesão se deu em 15 de agosto de 1823, no Palácio Lauro Sodré.
“É importante se pensar a Adesão como um processo que faz parte da história do Brasil; a gente fala muito da Independência, mas a partir de um eixo sul-sudeste; então, pensar em outras independências, uma independência vista dentro e a partir dos povos da Amazônia”, cmpleta Michelle Queiroz, também professora da Escola de Aplicação da UFPA. A abertura da exposição deverá contar com a presença do reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, e da presidente do IHGP, Anaiza Vergolino e Silva, entre outras autoridades.
Confira:
Abertura da Exposição “”Águas Turvas – Paisagens Insurgentes da Adesão de 1823 / O bicentenário do 15 de Agosto” e inauguração da Galeria Imperial
18h (em solenidade interna)
Na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), no entorno da Dom Pedro II, na Cidade Velha, próximo da Alepa
A partir do dia 16/09/2023, ficará aberta ao público, das 9 às 12h e das 14 às 16h30
Fonte: Pará – O Liberal.com