O pescador José Cardoso Lemos, conhecido popularmente pelo apelido de “Zezinho”, que salvou 45 pessoas do naufrágio da embarcação “Dona Lourdes I”, as proximidades da Ilha de Cotijuba, vai receber, no dia 25 de outubro deste ano, em Londres, na Inglaterra, o prêmio IMO (Organização Marítima Internacional, em tradução livre), por Bravura Excepcional no Mar, feito pela agência.
No dia 26 de setembro de 2022, ele e outros três familiares, que também ajudaram a salvar as pessoas que estavam no barco, receberam a medalha da Ordem do Mérito Grão-Pará Grau Cavaleiro pelo Governo do Pará, durante solenidade no Palácio dos Despachos, Sede do Poder Executivo Estadual, em Belém.
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Além dele, outros três grupos indicados do mundo todo, dentre 47 nomeações à premiação em 2023, levarão certificados de louvor por seus atos bravura, por conta do risco que teve de morrer durante o resgate, além de demonstrar coragem na tentativa de salvar vidas no mar ou prevenir ou mitigar danos ao meio ambiente marinho.
A tragédia completa um ano, nesta-sexta-feira (8), e, neste dia, está programada uma manifestação do movimento “Vidas Marajoaras Importam” no Porto da Foz do Rio Camará, no município de Salvaterra, no Marajó, onde foi o último ponto de parada do barco antes de naufragar, para pedir respostas às autoridades.
O próprio Zezinho foi quem forneceu a informação com exclusividade à redação integrada de O Liberal e disse que está pronto para a partida dele para o exterior, somente aguardando a data. “Vou ser reconhecido lá fora. É um prêmio anual. Já tirei passaporte. Tudo vai ser pago pela Capitania dos Portos. Queria levar a minha família, mas não vai ter como, só vai eu” disse.
Quem foi responsável pela indicação de Zezinho foi a Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR). Segundo ela, a ação foi feita “como forma de reconhecimento pelo ato de bravura e coragem ao colaborar com o resgate das vítimas do naufrágio da embarcação ‘D. Lourdes II’, portanto, a CPAOR está satisfeita com a escolha do premiado”.
Conheça os outros ganhadores
– A tripulação do rebocador SL Diamantina, indicada pela Austrália, pelo papel crucial no resgate coordenado de três dias de 21 tripulantes do graneleiro Portland Bay, que transportava 1.000 toneladas de óleo combustível. Um incidente de poluição marinha foi evitado.
– A tripulação do navio pesqueiro Zhe Long Gang Yu 05668, nomeado pela China, pela sua notável coragem e esforços incansáveis durante o resgate de outro navio pesqueiro, o Zhe Ling Yu Yun 30058, que pegou fogo, com as chamas se espalhando rapidamente devido aos fortes ventos. Doze sobreviveram; infelizmente, um pescador perdeu a vida.
– Técnico de Sobrevivência em Aviação de Terceira Classe John Walton, nadador de resgate a bordo do helicóptero CG-6009, Centro Móvel de Treinamento de Aviação, Setor North Bend, Guarda Costeira dos Estados Unidos, indicado pelos Estados Unidos. AST3 Walton desempenhou um papel vital no salvamento da vida de uma pessoa atirada ao mar pelo iate a motor Sandpiper quando este virou.
Saiba quem é a IMO
A IMO é a agência especializada das Nações Unidas responsável pela segurança e proteção do transporte marítimo e pela prevenção da poluição marinha e atmosférica por navios. O trabalho da IMO apoia os ODS da ONU.
Como agência especializada das Nações Unidas, a IMO é a autoridade global que estabelece padrões para a segurança, proteção e desempenho ambiental do transporte marítimo internacional.
O seu principal papel é criar um quadro regulamentar para a indústria naval que seja justo e eficaz, adotado e implementado universalmente. Por outras palavras, o seu papel é criar condições de concorrência equitativas para que os operadores de navios não possam resolver os seus problemas financeiros simplesmente cortando atalhos e comprometendo a segurança, a proteção e o desempenho ambiental. Esta abordagem também incentiva a inovação e a eficiência.
O resgate e a fuga do comandante da embarcação
Quando o naufrágio ocorreu, o José Cardoso Lemos disse, à época, que ajudou no resgate dos ocupantes da embarcação e dos corpos das vítimas. Ele estava junto com outros quatro familiares que ajudaram no apoio aos sobreviventes. Segundo Zezinho, a primeira pessoa que ele ajudou a tirar das águas foi Marcus de Souza Oliveira, o comandante da embarcação que naufragou.
A história dele causou bastante comoção no Brasil. José só tem 50% do movimento de um lado do corpo e um dos ajudantes dele no momento do resgate foi o sobrinho, que tem deficiência auditiva.
Para o pescador, Marcus teria alegado que queria voltar para a praia da Saudade, onde as vítimas e sobreviventes foram levados, porque estaria tendo um infarto e precisava ir para um hospital próximo. O comandante fugiu logo em seguida depois que chegou em solo paraense.
Relembre o caso
A embarcação “Dona Lourdes II” naufragou no dia 8 de setembro do ano passado e deixou 23 pessoas mortas (13 mulheres, seis homens e quatro crianças). De sobreviventes, foram 66. Marcus foi preso no mês, cinco dias depois do ocorrido. Ele passou três meses na cadeia até ser solto em 16 de dezembro do ano passado.
O caso ainda continua na fase de investigação pela Polícia Civil. Em 2 de maio deste ano, a audiência de instrução e julgamento de Marcus ia acontecer, mas foi adiada no mesmo dia. O representante do Ministério Público pediu um prazo para conclusão do aditamento à denúncia. Na audiência, o réu tinha sido denunciado em relação a apenas 8 das vítimas fatais, por falta de documentação como laudos do IML e da Capitania dos Portos para anexação do total de mortos que chega a 23 vítimas, além dos sobreviventes.
Dorivaldo Belém, advogado de Marcus, concordou com o adiamento para uma nova data a ser definida. Até hoje, não há uma previsão de quando vai acontecer, de fato, a audiência de instrução e julgamento do comandante do barco. Em nota, a PC informou que, conforme determinação do MPPA, um novo inquérito policial foi instaurado na Delegacia Fluvial para ouvir as vítimas do acidente.
Fonte: Pará – O Liberal.com