O Pará registrou, de janeiro até o dia 6 de junho deste ano, 47 óbitos em decorrência da leucemia. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) divulgados no último dia 6 de junho. Em 2022, ainda segundo o órgão, foram 243 casos e 96 óbitos. Entre o tipo mais recorrente da doença está a leucemia linfóide. Já a faixa etária com a maior incidência é de 0 a 19 anos. O alerta para a doença vem à tona já que neste mês é realizada a campanha “Junho Laranja”, que chama atenção para os casos de leucemia e para os cuidados relacionados à anemia.
A leucemia trata-se de uma condição hematológica maligna marcada pelo aumento de células leucêmicas imaturas, conhecidas como blastos, como explica a médica hematologista Fernanda Cordeiro, do Hospital Ophir Loyola (HOL). Além disso, a doença também é caracterizada por sintomas como anemia, supressão imunológica e diminuição das plaquetas sanguíneas — que atua diretamente no processo de coagulação.
“Ultimamente tem aumentado bastante [os casos de anemia]. A melhor prevenção é prestar atenção aos sinais e fazer exames regularmente. Atenção a sintomas como febre de origem indeterminada, aumento de gânglios (ínguas), sangramentos inexplicáveis, perda de peso sem motivo, sintomas de anemia, como sonolência, cansaço, fraqueza e palidez”, explicou a médica.
O diagnóstico da doença pode ser feito por meio de diversos métodos, ressalta a médica.. “A leucemia é um câncer no sangue que tem origem genética, ou seja, ocorrem alterações no DNA, que podem estar relacionadas a exposição a agentes tóxicos. Suspeitamos através de um exame de sangue simples, o hemograma (que apresenta anemia, diminuição da imunidade e das plaquetas), e se confirma com o mielograma, que é o exame de medula”, descreveu.
Entretanto, a leucemia tem cura, já que o tratamento é realizado a partir da quimioterapia e, em alguns casos, é necessário realizar o procedimento de transplante de medula óssea, ressalta a especialista. “Apesar do tratamento da leucemia ter avançado muito, ainda é uma doença grave. Quanto antes se diagnostica, mais chance de cura. e Anemia que não é diagnosticada e tratada, piora a qualidade de vida da pessoa”, disse Fernanda.
Luta
A vida da publicitária Simone Lucena, de 50 anos, mudou completamente em 2014, quando descobriu que o filho dela, Breno de Oliveira, estava com leucemia. Na época, foi constatado que o jovem era portador da doença do tipo LMA M3 — um subtipo da leucemia mielóide aguda. Emocionada, Simone lembra que Breno cursava duas faculdade: engenharia civil e engenharia. Apesar de toda a luta, o jovem nunca desanimou em meio ao tratamento. Prova disso é que ele ficou conhecido como “menino de aço”.
“Ele fez o tratamento e foi curado antes de receber alta. No final do acompanhamento, foi diagnosticado com outro tipo de leucemia. Onde na primeira quimioterapia já teve uma ocorrência, afetou o rim e ele veio a falecer em 2017. Devido ao tratamento de câncer, ele nunca se deixou abater. Sempre carregava um sorriso no rosto. E o nome “menino de aço“ era o nome do seu grupo de amigos onde ele colocava os boletins médicos, e os amigos organizavam. O nome do grupo era uma referência a ele”, afirmou Simone.
Em homenagem ao filho e com o objetivo de criar uma rede de apoio, Simone criou a “Associação Menino de Aço”. O que começou com um grupo nas redes sociais, se tornou algo maior. “Fundamos a associação justamente por tudo que passamos no período de tratamento e, principalmente, pela falta de sangue que é muito vasta para quem precisa. Sabendo que essa luta não se ganha sozinho, continuamos a lutar pelos outros pacientes, como ele sugeriu. A principal lição que ele nos deixou foi a lealdade de um amigo e a solidariedade”, contou.
Para quem viveu os dias de luta trazidos pela doença, a cura é uma história de superação. Esse é o caso do estudante de Engenharia de Software, Leoncendino Cardoso, de 22 anos, que mora em Castanhal, no nordeste do Estado. O jovem recebeu o diagnóstico da doença aos 11 anos, em 2012. Desde a descoberta do câncer, do tratamento até o recebimento da alta médica, Leoncendino lembra que o apoio da família foi o seu alicerce durante o período que passou pelo tratamento.
“Atualmente, não estou em tratamento. Já tive alta completa em 2021. Me sinto muito aliviado e agradecido por ter passado e sobrevivido a tudo. Já não me lembro muito bem, mas, na época eu sempre estava com medo das coisas que poderiam acontecer. Tudo sempre acontecia do nada. Por isso, sempre tomamos cuidado com tudo. Desde a alimentação até os lugares que eu frequentava, para evitar recaídas e pioras na minha saúde, que era extremamente frágil, e mesmo assim”, relembrou Leocendino.
Após ter lutado contra a doença, o jovem afirma que, em meio a tudo isso, o episódio trouxe mais responsabilidade para a vida dele. Não é à toa que ele indica maior cuidado com a saúde: “Para prevenção, sempre indico que mantenham uma boa alimentação, priorizando produtos naturais ao invés de industrializados, e fazendo exames periódicos. Isso porque a maioria dos casos que se consegue a cura é por causa do diagnóstico precoce. E realizar exames de rotina ajuda nesse diagnóstico”, aconselhou o estudante.
Tratamento
No Pará, as unidades de referência para atendimentos oncológicos são: Hospital Ophir Loyola, Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, ambos em Belém, e o Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém. A Sespa detalhou que, para ter acesso aos atendimentos, os pacientes precisam dar entrada pelas unidades de saúde dos municípios para, então, serem encaminhados aos serviços.
(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Atualidades)
Fonte: Pará – O Liberal.com