Neste último mês de 2023, a campanha “Dezembro Laranja” tem seu foco na prevenção e combate ao câncer de pele, doença muito frequente no Brasil. O tumor maligno mais incidente no país é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). A gravidade desse tipo de câncer é referendada pelos dados do levantamento da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa), indicando que, em 2022, foram registrados 633 casos de câncer de pele no Estado. Já em 2023, até o mês de setembro, foram registrados 488 casos.
De acordo com a Sespa, em 2022, dentro do quantitativo total de casos, 51 são de melanoma maligno e 90 são de casos de carcinoma em situ. Já em 2023, dentro do quantitativo total de casos, 34 são de melanoma maligno e 07 são de casos de carcinoma em situ.
O INCA divulgou o novo relatório Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, que traz um levantamento sobre novos casos da doença na população brasileira. A estimativa é de que, para cada ano do triênio 2023-2025, surjam aproximadamente 704 mil novos diagnósticos para variados tipos de câncer, sendo o de pele, não melanoma, o mais incidente entre eles (31,3% do total de casos).
Tratamento
O tratamento da doença, como repassa a Sespa, é iniciado na Atenção Básica de Saúde, que é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). De lá, o usuário é encaminhado para consulta com um especialista para confirmação do diagnóstico e tratamento.
As unidades estaduais de referência para atendimentos oncológicos são o Hospital Ophir Loyola, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, ambos em Belém; o Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém; o Hospital Regional de Tucuruí e o Hospital Regional Público de Castanhal. Além desses locais, a Policlínica Metropolitana de Belém e o ambulatório da Universidade Estadual do Pará (Uepa) também são referência para consultas dermatológicas e biópsia de pele.
Desafiador
A servidora pública Ana Carla Andrade, 46 anos, casada, moradora do bairro Águas Brancas, em Ananindeua, na Grande Belém, está em tratamento contra o câncer de pele. “Descobri o câncer de pele, do tipo Melanoma, no final de 2018, quando depois do banho fui passar a toalha nas costas e senti um sinal que eu tinha nas costas arder. Como meu pai faleceu de câncer de pelo do mesmo tipo, Melanoma, eu cresci escutando dos médicos que se um dos meus sinais (sou cheia de sinais) mudasse de cor, aumentasse o tamanho ou sangrasse, era para tirar imediatamente. E assim eu fiz. Procurei um dermatologista e tirei o sinal. Depois da biopsia, confirmou Melanoma. Esse foi o pior dia de minha vida… pois sabia da gravidade deste câncer de pele”, relata Ana Carla.
Ela conta que, de imediato, iniciou o tratamento, em 2019, e ainda o faz. “É muito difícil receber um diagnóstico desse, principalmente, quando você teve casos na família e que veio a óbito pela doenca. Mesmo em tratamento, faço exames trimestrais e vou ao especialista para mapeamento corporal a fim de monitorar os sinais”, pontua Ana. Essa paciente diz que por mais que se tenha casos na família, nunca se pensa que um dia posso acontecer com a própria pessoa. Conta que usava protetor soloar, mas não como deveria.
“Hoje, só saio de casa com bastante protetor solar no corpo e rosto. Meu protetor já vive na bolsa comigo para onde eu vou e até faço coleção deles (risos). Não me exponho ao Sol de jeito nenhum. Evito sair a praia e piscinas. Somente vou em horários depois das 16h e mesmo assim com blusas de proteção, boné e muito protetor solar”, relata a paciente.
Esse cuidado com o Sol é justamente o que ela recomenda para as pessoas em geral, como prevenção à doença. “Sempre recomendo para que as pessoas não se exponham ao Sol em horários inadequados, que usem protetor solar e que qualquer alteração em sinais procurem imediatamente um especialista, pois o câncer de pele não é brincadeira”, enfatiza Ana Carla.
Riscos
O médico oncologista Luís Eduardo Werneck, chefe do Serviço de Oncologia da Oncológica do Brasil em Belém (PA) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), destaca que o câncer de pele é uma anormalidade, uma anomalia, como são todos os cânceres e que um ser humano desenvolve, por uma condição que muitas vezes é multivariada. Contudo, no câncer de pele o fator mais importante é a idade, ele geralmente é mais comum em pessoas de mais idade, mais idosas, porém, ele pode acontecer e vem diminuindo essa idade para a incidência dos casos.
“O segundo fator mais importante de risco depois da idade é a exposição ao Sol, ou seja, nós moramos em um país que tem alta exposição ao Sol. Segundo os dados do IBGE e do Inmet, na Região Norte do Brasil são mais de 300 dias de Sol por ano dos 365 dias que nós temos. Isso causa, mesmo que a pessoa não queira, uma incidência maior. Os horários que devem ser evitados, ou seja, os horários em que os raios ultravioletas nocivos são piores, são sempre entre 10h da manhã e 3h da tarde”, pontua o especialista.
Mas, muitas pessoas não conseguem evitar esses horários. Como destaca Eduardo Werneck, há pessoas que trabalham, pessoas que são entregadores de mercadorias, mototaxistas, operários da construção civil. Muitas profissões em geral e também pessoas que trabalham em fazendas, não conseguem evitar esse horário e “esse acúmulo de exposição ao Sol, ao longo dos anos, ao longo de muitos anos, vai gerar com que um dia a pessoa tenha câncer de pele”.
Tipos
Na prática, são três tipos de câncer de pele. O carcinoma basocelular é o mais simples; o carcinoma espinocelular, de grau intermediário, e o melanoma. O carcinoma basocelular, o mais simples, geralmente é representado por pequenas pintas, pequenas manchas que surgem na pele, em qualquer lugar do corpo, mas geralmente nos braços, na face.
O câncer basocelular é geralmente causado por pintas, manchas, que têm algumas características, elas não têm os bordos muito regulares, “ela é irregular, é uma mancha meio feia, ela pode ou não conter alguma crosta e ela geralmente tem mais de uma cor, não é uniforme, é um marrom claro, um marrom escuro, é uma mistura de cores e isso a gente conseguiu olhar de maneira bem próxima”.
O tratamento para o carcinoma basocelular, que é o primeiro, geralmente é só ir no dermatologista, fazer um exame de dermatoscopia e retirar a lesão com um pequeno procedimento cirúrgico, que muitas vezes é feito no próprio consultório.
O carcinoma espinocelular, que é o do meio, é o segundo, já é um pouco mais grave. Ele já atinge áreas do rosto próximo, tem uma predileção por áreas próximas dos olhos e do nariz, e pode causar lesões mais profundas, pode ter, inclusive, lesões profundas que nem mesmo com a cirurgia se consegue retirar toda a lesão. “Tem-se que ter mais cuidado com o carcinoma espino celular. Em alguns casos, é necessário não só o tratamento com a cirurgia para retirar, com bisturi, para retirar a lesão, mas pode ser necessária também quimioterapia para o carcinoma espinocelular, nos casos mais graves. Nós já temos essa experiência aqui em Belém”, ressalta Eduardo Werneck.
Melanoma
“Além disso, nós temos o melanoma. O melanoma, sim, é um câncer de pele gravíssimo. Ele é causado por uma lesão que é completamente negra, preta, completamente. Geralmente, pode ocorrer em qualquer parte do corpo, porém existe alguma predileção pela planta dos pés, entre os dedos e até mesmo no couro cabeludo, podendo ocorrer em qualquer lugar do corpo”, destaca Werneck.
“O grande problema é que o melanoma ele é praticamente incurável, ou seja, nós temos trabalhos, já conseguimos curar alguns pacientes com câncer de pele tipo melanoma, porém se ele não for descoberto no início, para se retirar simplesmente com uma cirurgia e fazer a avaliação dos linfonodos, se não tem metástases, porque o melanoma gera metástases, o carcinoma basocelular jamais vai gerar metástases. Quando melanoma já é metastático, ele é praticamente incurável. Mais de 90% dos pacientes vão a óbito mesmo com os tratamentos que nós temos hoje muito modernos”, enfatiza o médico.
O melanoma costuma agir dando metástases logo para os linfonobos regionais e, principalmente, para o pulmão e leva o paciente ao óbito. “A causa do câncer de pele é exposição desprotegida aos raios ovenossivos, ou seja, exposição desprotegida ao Sol durante um período cumulativo de tempo. Como prevenção, deve-se evitar essa exposição ou se utilizando, por exemplo, chapéus, bonés, tecidos tecnológicos, roupas com proteção contra UV e outros tipos de proteção; abrigar-se do Sol, além de usar protetor solar para as pessoas que precisam ficar ao Sol. E esse protetor tem que ser renovado, passado novamente no corpo, em geral a cada três horas
Fonte: Pará – O Liberal.com