Com o derretimento da vantagem do ainda líder Botafogo, o Campeonato Brasileiro chega à sua reta final com seis postulantes ao título. Entre eles, apenas o Red Bull Bragantino é do interior, não tem uma torcida de massa e nunca venceu o torneio.Quarto colocado, o time de Bragança Paulista, a 85 km da capital, soma 58 pontos, somente um a menos do que a equipe carioca, sua adversária neste fim de semana -ambos têm 32 jogos disputados. Grêmio e Palmeiras acumulam 59 pontos cada um, porém já disputaram 33 partidas.Na rodada deste fim de semana, o clube da estrela solitária poderá cair do topo pela primeira vez desde que assumiu a ponta, em 30 de abril. Palmeiras e Grêmio, além do próprio Bragantino, têm a possibilidade de tomar a dianteira. O Bragantino encara o Botafogo às 16h de domingo (12), no estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança.Nem o técnico Pedro Caixinha nega mais que o Massa Bruta, como a equipe é conhecida na cidade, tem a ambição de surpreender os grandes. Até recentemente, o discurso dele era de brigar jogo a jogo, visando uma vaga na Libertadores.Na última quarta-feira (8), porém, a possibilidade de assumir a liderança do Nacional fez o treinador mudar o tom. Seus jogadores não lidaram bem com o momento de pressão, atuaram mal e foram derrotados pelo São Paulo, por 1 a 0.”Por isso, temos que gerir muito bem as expectativas”, disse o treinador português após o jogo. “Quer queira, quer não, existia esse lado emocional grande, porque a equipe, mesmo que fosse por uma hora ou uma noite, poderia liderar.”O treinador, com trabalhos realizados em clubes de nove países, sabia quando foi contratado que teria de dar uma atenção maior à questão emocional. Desde 2019, quando passou a fazer parte da franquia de clubes da Red Bull, o Bragantino tem recebido aportes milionários para investir em jovens talentos com potencial de desenvolvimento e possível revenda.Não à toa, o Massa Bruta tem o elenco mais jovem entre os 20 times da Série A, com média de idade de 23,8 anos. O número é consideravelmente menor do que os dos demais postulantes ao título: Botafogo (27,8), Palmeiras (25,8), Grêmio (27,1), Flamengo (26,7) e Atlético Mineiro (28,7).Coordenador técnico do Red Bull Bragantino de 2020 a 2022, Sandro Orlandelli foi um dos responsáveis pela montagem do atual plantel. Também era uma função dele implementar a mentalidade da empresa austríaca de bebidas energéticas na rotina de trabalho dos jogadores.”A Red Bull tem uma característica própria em que tudo é pautado de acordo com o que é a marca: jovem, ousada e agressiva”, diz ele. “Nós replicamos isso no futebol, formando um elenco de jovens talentos com vontade de crescer e se desenvolver.”No período de 2019 e 2022, foram gastos cerca de R$ 485 milhões na contratação de atletas. Neste ano, o valor chegou a R$ 55 milhões.De acordo com o relatório “Convocados”, conduzido pelo economista Cesar Grafietti, o Bragantino foi o quarto clube que mais gastou com contratações em 2022, com R$ 355 milhões. Somente Flamengo (R$ 564 milhões), Palmeiras (R$ 462 milhões) e Atlético Mineiro (R$ 424 milhões) gastaram mais.O investimento, contudo, ainda não fez o clube ser autossustentável, sobretudo pelo crescimento de sua dívida, que era de R$ 43 milhões em 2019 e chegou a R$ 530 milhões no final do último ano.Ainda de acordo com Grafietti, há um entendimento de que boa parte desse endividamento é oriundo de empréstimos feitos pela própria Red Bull.O modelo de investimento está alinhado com o que é feito nos outros clubes da franquia: o RB Leipzig, da Alemanha, o Red Bull Salzburg, da Áustria, e o New York Red Bulls, dos Estados Unidos. Todos investem na contratação de promessas pensando em vendas futuras.Foi assim, por exemplo, com o meia Claudinho, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2020, com 18 gols. Ele foi comprado pelo clube por R$ 2,5 milhões, em 2019, e vendido ao Zenit, da Rússia, em 2021, por R$ 92 milhões.Além do retorno financeiro, a escolha por jovens, afirma Orlandelli, facilita o desenvolvimento do trabalho. “Eles são mais abertos a aprender. Quanto mais sênior é um jogador, mais você tem que fazer o que a gente chama de retrabalho.”A ausência de jogadores de renome, no entanto, acaba atraindo menos torcedores para as partidas do Bragantino, apesar da boa campanha no Brasileiro.O time paulista tem a segunda pior média de público da competição, com 6.065 torcedores por jogo, à frente apenas do América-MG, já rebaixado, que tem média de 3.235 espectadores por partida como mandante.Há quem veja nisso um aspecto positivo. É menor a pressão da arquibancada sobre o jovem elenco.”Quando estamos bem, falta esse apelo a mais no estádio. Mas, quando não estamos, essa pressão que chega a ser violenta em outros clubes não acontece, o que deve dar uma tranquilidade a mais para o time trabalhar e buscar resultados melhores”, diz Renan Eric de Lima Saviello, 24, operador de estacionamento.Torcedor assíduo do estádio Nabi Abi Chedid, ele aponta um motivo para a baixa média de público. “Por anos, vivemos de promoções e muitas vezes de ingressos grátis. Agora, quando você tem que pagar, alguns se assustam.”Ele também acredita que o fato de muitos cidadãos de Bragança terem um time grande da capital como a primeira opção do coração impede a formação de uma torcida mais numerosa. “Essa cultura de colocar o Bragantino como time B faz com que muitos não vejam o time com o mesmo gosto e carinho.”Esse é o caso do engenheiro civil Gilberto Borelli Junior, 26. Palmeirense, ele se diz dividido na reta final do Brasileiro, embora prefira comemorar mais um título alviverde do que aquele que seria o primeiro troféu na elite do futebol brasileiro do Bragantino. “Mas, se o Braga ganhar, vou comemorar e ficar feliz também.”Em 1991, o então Clube Atlético Bragantino chegou perto. Na época, o torneio era disputado em outro formato: 20 clubes se enfrentavam em um turno único e os quatro melhores avançavam para as semifinais. Depois de eliminar o Fluminense, o Bragantino, dirigido por Carlos Alberto Parreira, perdeu a final para o São Paulo.
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias