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Água potável tem valor econômico; entenda!

Pode parecer estranho para a população da Grande Belém e da Amazônia como um todo ter de aprender a lidar com o uso eficiente e racional da água, sendo que a região é conhecida por ter água suficiente para abastecer o mundo por ao menos 250 anos. Mas, segundo o professor doutor Titular em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA), Manoel Fernandes Martins Nogueira, especialista em conversão de energia, inicialmente é preciso entender que água bruta não é compatível com a vida humana.

“Para ser ingerida, ela precisa ser tratada e esse tratamento é a remoção das impurezas, seja sólida, líquida e bacteriológica. Isso implica que obter água potável exige que ela seja submetida a um processo, como produção de eletricidade ou gasolina. Consequentemente, água potável possui valor econômico”, alerta. “O fundamento do uso eficiente da água é entender a existência desse valor. Sem essa compreensão, o indivíduo tende a igualar água com o ar e, portanto, a usa de maneira esbanjadora, gerando desperdício, o que causa excesso de consumo e, com o tempo, dificuldade de atender a demanda e racionamento”, prossegue.
Para Manoel Nogueira, essa falta de compreensão é mais difícil de ser internalizada pela população quando ele mora numa região com muita água doce como Belém. “O indivíduo vê água em abundância e não valoriza a água que sai pelo encanamento. Água do rio não é água potável da mesma maneira que fruto de açaí não é açaí”, compara. “Então, o termo uso eficiente da água significa gastar a mínima quantidade de água potável necessária para que, prioritariamente, o indivíduo tenha sua saúde preservada e em segunda prioridade, qualidade de vida. Qualquer outro uso de água potável é passível de questionamento”.Conteúdos relacionados Meta sustentável: acesso à energia limpa e renovávelFórum sobre Mudanças Climáticas planeja Conferência do Clima
EFICIÊNCIAA partir dessas considerações, o professor destaca que tornar em casa o uso da água mais eficiente requer mudança de hábitos: “como evitar lavar veículos, lavar calçadas, deixar torneiras abertas sem necessidade e não dar importância para vazamento de água potável em tubulações, priorizar caixa d’água sanitárias com dois comandos de liberação de água: metade e todo, entre outras”.
A segunda ação, destaca Manoel Nogueira, é promover a reciclagem da água. “Essa ação requer um investimento e, portanto, mais custosa. Aqui me refiro, por exemplo, a reciclar água de lavagem de carro. Os lava-jatos podem coletar a água usada, limpar e usar novamente. Usar a água do chuveiro para uso nos vasos sanitários. Coletar a água da chuva para uso em limpezas”, detalha.Quer saber mais sobre as notícias do Pará? Acesse nosso canal no Whatsapp
DESAFIOS MACRO
O pesquisador cita que além dessas ideias simples, existem desafios nesse tema a serem tratados de forma macro, na COP 30. “A escolha de estratégias e programas a serem implementados pelos estados para promover o uso eficiente da água. Aqui faço um paralelo com o uso residencial de painéis fotovoltaicos. Há cinco anos eles não existiam. Com o estabelecimento de uma legislação favorável para o indivíduo, elas são comuns hoje.
Como os programas de energia solar, a promoção do uso eficiente da água deve oferecer ao indivíduo um ganho significativo por ser eficiente e ao mesmo tempo uma punição por ser esbanjador. Somente programas de conscientização, sem ganhos, causará uma pequena ou nenhuma economia”, considera.
Outro desafio apontado é a preservação da qualidade da água nos dos corpos hídricos públicos: rio, baía, lagos e igarapés. “A poluição desses corpos causa a impossibilidade de uso das suas águas e, portanto, a escassez do recurso para consumo humano. O lançamento de esgoto dos conjuntos residenciais localizados ao redor do reservatório Utinga implica num aumento do custo para limpar essa água, o que pode causar a impossibilidade do uso dessa água ou o fornecimento de água imprópria para consumo humano. Isso também serve para o setor industrial”, frisa.
Por fim, Manoel Nogueira ressalta o estabelecimento de estratégias para o combate à perda de água por vazamento nos dutos de distribuição e para ampliação das estações de tratamento. “A população cresce todos os dias e, portanto, todos os dias é preciso mais água potável”.
DESAFIOS LOCAIS
No Pará, em específico, o docente alerta para outros desafios a serem superados. “As pessoas jurídicas devem tratar sua água e devolver o seu rejeito na mesma qualidade que receberam. Isso preserva a saúde dos corpos de água. Aqui estamos falando, particularmente no Pará, pela extinção dos esgotos a céu aberto. O fim das valas. O resíduo que é lançado nas valas pelas residências, restaurantes, condomínios, comércios, precisa ser coletado e limpo, antes de ser lançado no corpo d’água”, explicita. “Como isso não é feito, compromete a saúde do reservatório de água e a qualidade da água fornecida à população”, completa. “Em resumo, os principais desafios são coleta e tratamento dos esgotos, redução dos vazamentos nos dutos de abastecimento, promover a reciclagem e oferecer à população ganhos por economizar água, e penalidades”.

Sobre a situação hídrica da capital paraense, mais uma observação. “É comum em Belém termos racionamento de água potável. Para transformar água doce em água potável é preciso ter infraestrutura instalada, a qual é cara para construir e cara para manter. Não havendo essa infraestrutura e a sua manutenção eficiente, racionamentos são inevitáveis.
Apesar da ampliação e preservação do sistema de abastecimento ser importante, não acho que é o problema mais importante de Belém. Mas, sim, a coleta e tratamento dos esgotos urbanos e industriais”, aponta. “Se isso não for feito, como não o é hoje, por mais que a infraestrutura seja instalada, o fornecimento de água será impróprio para o consumo humano”.
AGRICULTURA E INDÚSTRIA
O uso racional da água pela indústria e agricultura, os maiores consumidores de água, também são alvos de atenção pelo professor doutor. “Reciclagem da água usada. Todas as pessoas jurídicas industriais devem limpar seus efluentes de maneira a devolver na mesma qualidade que receberem. As empresas responsáveis já fazem isso hoje com sucesso. Cabe aqui o monitoramento do Estado para obrigar as outras indústrias a fazerem isso”, considera. “Quanto à agricultura, é difícil demandar deles a reciclagem da água lançada no solo. Para essas é necessário exigir, antecipadamente, demonstrar que usarão a água de maneira eficiente e ambientalmente correta para obterem a autorização do seu uso”.

Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias 

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