Para se identificar se uma pessoa com autismo, deve ser feito um diagnóstico precoce, e a partir desse processo pode-se chegar até mesmo a outros casos em pessoas da própria família e adultos em geral. Mas como saber se uma pessoa apresenta ou não sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Essa experiência foi vivenciada, de forma muito especial, pela produtora de eventos Wanda Leal Barbalho, 62 anos, moradora do bairro do Umarizal. Ela é mãe e avó de duas pessoas com autismo/ TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). São o filho Paulo Henrique Leal, de 35 anos, formado em Jornalismo, e o neto Kaique Leal, com 9 anos de idade e cursando o 5º ano do ensino fundamental. Foi por intermédio do netinho que Wanda conseguiu identificar o filho com autismo.
“Infelizmente, quando meu filho Paulo Henrique era criança, eu não sabia o que era autismo, então ele cresceu sendo julgado como um menino introvertido. Era muito “na dele”, mas muito desafiador, “teimoso”, e assim foi a infância toda. Muitos puxões de orelha, muito castigo e distanciamento social. Ele não gostava de ir a encontros de família, tinha “tiques nervosos” (assim eu pensava que era, hoje sei que eram estereotipias). Foi alfabetizado por mim – na época eu morava em Benevides – e, com 4 para 5 anos, ele já lia muito bem, mas não frequentava a escola. Só foi para escola no primeiro ano. Ele sempre foi muito inteligente. Enfim… o tempo passou, e ele passou a me dar trabalho para terminar o ensino médio e, por consequência, escolher a faculdade”, conta Wanda.
Paulo Henrique passou no vestibular para Computação com 17 anos, cursou uns dois anos e parou. “Mas não me falou nada, até que descobrimos que não estava frequentando. Aí, quis fazer Segurança do Trabalho. Conversamos com ele, dissemos que se não frequentasse seria sua última chance, pois estávamos investindo e ele não estava aproveitando… e não deu outra, abandonou também. Um tempo depois, quis fazer Jornalismo, apesar de já ter dito que não pagaríamos mais, e que se ele quisesse ia fazer a universidade pública… Mas, mãe é mãe né? Deixei fazer. E mais uma vez ele não concluiu”.
Ocorre que a faculdade em que Paulo Henrique fazia o curso enviou carta à família informando que ele poderia retomar as atividades acadêmicas, já que permanecia válida a matrícula de Jornalismo. Então, o estudante convenceu os pais para que pudesse voltar ao curso.
Descoberta
“ Nessa saga toda, eu ainda não sabia nada sobre autismo. Achava que ele não sabia o que queria, que não queria estudar… e assim foi até que há 8 anos ele me disse: ‘Mãe, eu me enxergo muito no Kaique. Não gosto disso, daquilo’, e foi aí que comecei a perceber que meu filho era autista como meu neto que foi diagnosticado com 4 anos e logo começou com as terapias. e eu nunca tinha me dado conta que ele tinha passado a infância, adolescência e parte da vida adulta sendo julgado, incompreendido”, revela Wanda.
“Ele sempre dizia quando desistia da faculdade, que o professor “tal” tirava sarro da cara dele, que o colega “tal” fazia graça das conversas dele. Bom, ele aceitou ir na psiquiatra e ela o diagnosticou com Autismo/Asperger/ TDAH. Mas ela o medicou com drogas tão pesadas que ele chegou a ter alucinações e não quis mais voltar para terapia”.Mas, o tempo passou, e, em 2020, Paulo Henrique teve confirmado o diagnóstico e passou a fazer terapia. “E, depois de praticamente 16 anos de espera, em dezembro de 2020, ele apresentou o TCC (Trabalho de Conclusão do Curso) e se formou em Jornalismo. Fez todo o TCC sozinho”, relata a mãe. Wanda ressalta a parceria do marido no acolhimento ao filho. Ela destaca que a informação é fundamental para a sociedade acolher as pessoas com autismo e recomenda aos pais que devem aceitar o fato, para fazer o diagnóstico, para não se perder tempo precioso para as intervenções adequadas.Wanda Barbalho integra o Grupo Mundo Azul, que em Belém atua pelos direitos das pessoas com autismo.
Atendimento
A neuropediatra e professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), Joelma Paschoal, explica que os sintomas e sinais do TEA a que os pais merecem ficar atentos são as dificuldades na comunicação e interação social, ou seja, a criança que evita olhar nos olhos das pessoas, que não consegue imitar um gesto como jogar beijo e dar tchau, que não gosta do toque… Outros sinais como padrões de interesses restritos e estereotipados, como balançar de mãos, gostar de objetos girantes, enfileirar brinquedos…
Quando há suspeita de autismo, a família deve primeiramente buscar informações com o pediatra, e este deve encaminhar a criança para uma avaliação mais especializada com um neuropediatra ou psiquiatra infantil. “Temos serviços que fazem diagnóstico e tratamento na rede pública. A criança deve receber o tratamento o mais precoce possível”, destaca a médica.
Rotina
“É importante que a família de uma criança com TEA receba orientação parental e esteja engajada no tratamento, para que a rotina da casa siga um fluxo respeitando as necessidades da criança. Por exemplo, adequação da rotina da casa com horários para alimentação, escola, terapias e lazer, controle dos níveis de intensidade de barulho; na alimentação, ter observância sobre a seletividade alimentar que a criança possa ter…”, orienta Joelma Paschoal.
Com relação ao ambiente escolar, a neuropediatra observa que o ideal é que sempre a escola deva ser informada sobre a suspeita e/ou confirmação do autismo. Pode ser necessário um acompanhante terapêutico. “Com a informação, conhecimento e capacitação dos professores, a escola também pode se transformar em um ambiente terapêutico para criança, e a convivência com outras crianças poderá ser uma estimulação social muito importante”, salienta a médica.
Confira orientações sobre a identificação de uma pessoa com autismo:
– Verificar se a criança apresenta dificuldade na comunicação e interação social
– Observar se a criança evita olhar nos olhos das pessoas, que não consegue imitar um gesto como jogar beijo e dar tchau, que não gosta do toque
– Verificar se apresenta outros sinais como padrões de interesses restritos e estereotipados, como balançar de mãos, gostar de objetos girantes, enfileirar brinquedos…
– A partir da suspeita de autismo, a família deve buscar por um pediatra, que encaminhará a criança para uma avaliação com um neuropediatra ou psiquiatra infantil.
– Esse atendimento é feito na rede pública de saúde
– Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor.
– A família deve estar engajada no tratamento da criança.
– A rotina da casa deve respeitar as necessidades da criança, incluindo com horários para alimentação, escola, terapias e lazer, controle dos níveis de intensidade de barulho; na alimentação, ter observância sobre a seletividade alimentar que a criança possa ter.
– A escola deve ser informada sobre a suspeita e/ou confirmação do autismo.
Fonte: Pará – O Liberal.com